O Luto

Um trabalho de Sandra Rodrigues


AJUDAR OS ADOLESCENTES A COMBATER A DOR

Todos os anos milhares de adolescentes passam pela experiência da morte de alguém que amavam. Quando um pai, irmão, amigo ou familiar morre, os adolescentes sentem a perda desse alguém que ajudou a moldar as suas frágeis auto-identidade de forma opressiva. E estes sentimentos sobre a morte passam a fazer parte da vida deles para sempre.

Adultos atenciosos, sejam pais, professores, conselheiros ou amigos, podem ajudar os adolescentes durante este período. Se os adultos são abertos, honestos e carinhosos, a experiência da perda de alguém amado pode ser uma possibilidade para estes jovens aprenderem sobre a alegria e dor que pode vir pelo facto de se amar e querer bem aos outros.

A Muitos Adolescentes É-lhes Dito Para “Serem Fortes”

É triste dizer, muitos adultos a quem falta entenderem as suas próprias experiências desencorajam os adolescentes a partilharem o seu sofrimento. Adolescentes despojados demonstram todos sinais de quem está a lutar com sentimentos complexos, ainda assim muitas vezes são pressionados para actuar melhor do que realmente são capazes.

Quando um pai morre, é dito a muitos adolescentes para “serem fortes” e “para continuar”. Eles podem não saber se eles próprios sobrevivem, quanto mais dar apoio a outra pessoa. Obviamente, este tipo de conflitos impede o “trabalho do luto”.

Os Anos da Adolescência Podem Ser Naturalmente Difíceis

Os adolescentes já não são crianças, mas também não são adultos. Com excepção da infância, nenhum período do desenvolvimento possui tantas mudanças como a adolescência. Ao deixar a segurança da infância, o adolescente inicia o processo de separação dos pais. A morte de um pai ou irmão, pode então ser uma experiência particularmente devastadora durante este período, já em si, difícil.

Ao mesmo tempo que o adolescente é confrontado com a morte de alguém que ama, também enfrenta pressões fisiológicas, psicológicas e académicas. Enquanto adolescentes podem começar a parecer “homens” ou “mulheres”, mas ainda precisam de um apoio consistente e compassivo no “processo de luto”, porque desenvolvimento físico não implica desenvolvimento da maturidade emocional.

Os Adolescentes Passam Frequentemente por Mortes Súbitas

A experiência do sofrimento que os adolescentes sentem surge muitas vezes de maneira inesperada. Um pai pode falecer de um súbito ataque de coração, um irmão ou irmã pode morrer num acidente de viação, ou um amigo pode suicidar-se. A verdadeira natureza destas mortes muitas vezes resulta num prolongado e elevado sentimento de irrealismo.

Sentindo-se ofuscados ou entorpecidos quando alguém amado morre é frequentemente a experiência de quem passa por este sofrimento cedo. Este entorpecimento tem uma função valiosa: dá tempo às emoções para aceitarem o que a cabeça lhes transmite. Este sentimento ajuda a separar a realidade da morte até estarem preparados para tolerarem o que não querem acreditar.

O Apoio pode Faltar

Muitas pessoas assumem que os adolescentes têm muitos amigos encorajadores e que a família está sempre disponível para eles. Na realidade, isto pode não ser verdade. A falta de apoio disponível relaciona-se frequentemente com as expectativas sociais colocadas na adolescência.

Normalmente, espera-se que os adolescentes sejam “crescidos” a apoiem os outros membros da família, principalmente um pai ou mãe sobrevivente e/ou os irmãos e irmãs mais jovens. Já foi dito a muitos adolescentes, “Agora, terás de cuidar da tua família”. Quando um adolescente sente a responsabilidade de “cuidar da sua família”, ele ou ela não tem a oportunidade – ou a permissão – para sofrer.

Às vezes, pensamos que os adolescentes encontram conforto com outros adolescentes. Mas quando se fala de morte, isto pode não ser verdade. Muitos adolescentes despojados são cumprimentados com indiferença pelos outros adolescentes. Parece que a não ser que também os amigos tenham também passado pela experiência do luto, eles projectam os seus próprios sentimentos de desamparo ignorando completamente o assunto da perda.

Como nos esforçamos para ajudar os adolescentes despojados, devíamos lembrarmo-nos sempre que muitos deles vivem em ambientes que não lhes garantem apoio emocional. E ao virarem-se para os amigos e a família ouvirem “”Para seguirem com a vida”.

Podem Existir Relações Conflituosas

Os adolescentes esforçam-se para alcançarem a sua independência, por isso frequentemente possuem relações conflituosas com os outros membros da família. Um normal, porém difícil modo dos adolescentes se separem dos pais é passando por um período de desvalorização.

Se um pai morre enquanto o adolescente está a passar pela fase de repelir o pai física e emocionalmente, frequentemente surge um sentimento de culpa e de “trabalho inacabado”. No entanto a necessidade de criar esta distância é normal, mas podemos facilmente verificar como isto vai complicar todo o processo de luto.

Sabemos que a maioria dos adolescentes passa momentos difíceis com os pais e irmãos. Os conflitos resultam do processo normal de formação de identidade individual. Morte, combinada com a turbulência das relações entre o adolescente e pais ou irmãos, pode criar uma necessidade real para “falar com alguém de fora” sobre a relação dele (adolescente) com a pessoa que faleceu.

Sinais de Que Um Adolescente Precisa de Ajuda Extra

Como já se disse, existem muitas razões para que uma recuperação saudável seja especialmente difícil para os adolescentes. Alguns adolescentes em luto podem comportar-se de maneira inapropriada ou amedrontada. Esteja atento a:

Sintomas de depressão crónica, dificuldades em dormir, inquietude e abaixa auto-estima
Insucesso escolar ou indiferença para actividades relacionadas com a escola Deterioração das relações com a família e os amigos
Comportamentos de risco como abuso de drogas e álcool, lutas e experiências sexuais
Negação da dor enquanto age ao mesmo tempo como forte e com maturidade

Para ajudar um adolescente que está a passar por um período particularmente difícil com a sua perda, explore bem os serviços de ajuda na sua comunidade. Os conselheiros escolares, os grupos da igreja e os terapeutas privados são os recursos mais apropriados para alguns jovens, enquanto outros podem apenas precisar um pouco mais de tempo e atenção de amigos atenciosos que gostem deles. O mais importante é que ajude o adolescente que sofre a encontrar segurança e a criar saídas emocionais neste momento difícil.

O Papel do Adulto Atencioso

O modo como os adultos reagem à morte de alguém amado produz efeito no modo de reagir dos adolescentes. Às vezes, os adultos não querem falar da morte., pensando que ao fazerem isso poupam os mais jovens da dor e tristeza. Contudo, a realidade é muito simples: os adolescentes sofrem de qualquer maneira.

Frequentemente, os adolescentes precisam de adultos atenciosos como terem a certeza de que é correcto estarem tristes e sentir muitas emoções quando alguém que amavam morreu. Normalmente, também precisam de ajuda para saberem que a dor que sentem nesse momento não durará para sempre. Ao ignorar, os adolescentes podem sofrer mais e sentirem-se isolados da actual morte. Pior ainda, podem sentir-se sozinhos com o seu sofrimento.

Esteja Atento aos Grupos de Apoio

Grupos de apoio com adolescentes na mesma situação são um dos melhores modos de ajudar um adolescente. Num grupo, os adolescentes podem comunicar com outros adolescentes que passaram pela experiência da perda. Permitem e encorajam a contar a historia deles ou delas as vezes que eles quiserem e como quiserem. Normalmente, a maioria está disposto a reconhecer que aquela morte alterou a sua vida para sempre. Pode ajudar um adolescente a encontrar um grupo de ajuda. Este esforço da sua parte será apreciado.

Compreendendo a Importância da Perda

Lembre-se na adolescência a morte de alguém amado é uma experiência cortante. Como resultado desta morte a vida do adolescente está em reconstrução. Compreenda o significado da perda e seja sensível e compassivo em todos os seus esforços de ajuda.

O luto é complexo. Depende muito de adolescente para adolescente. Os adultos atenciosos precisam comunicar aos adolescentes que não é vergonhoso. Pelo contrário, a dor é a expressão natural de amor pela pessoa que faleceu.

Para adultos atenciosos, o desafio é claro, adolescentes não escolhem entre sofrer ou não sofrer, mas os adultos podem escolher entre ajudar ou não ajudar os adolescentes com o seu sofrimento.

Com amor e compreensão, os adultos podem apoiar e ajudar os adolescentes vulneráveis durante este tempo, tornando este período numa experiência valiosa para o crescimento pessoal e desenvolvimento da adolescência.

É importante reconhecer que a ajuda dos adolescentes em luto não é tarefa fácil. Terá de disponibilizar tempo, amor e preocupação. Mas esse esforço será valorizado.

Ao “Caminhar com” um adolescente durante o seu processo de luto, está a dar o melhor presente – você mesmo.