A morte de alguém amado muda sempre a nossa vida. E o movimento do “antes de” para o “depois de” é quase sempre uma viagem longa, dolorosa. Da minha própria experiência de perdas assim como dos milhares de pessoas que também sofrem e com quem trabalho durante anos, aprendi que se queremos recuperar não podemos marginalizar as extremidades da nossa dor. Pelo contrário, devemos passar por tudo isso.
Também aprendi que esta viagem requer luto. Existe uma importante diferença. Dor/aflição é o que pensa e sente interiormente quando alguém que ama morre. Luto é a expressão externa desses pensamentos e sentimentos. Fazer o luto é ser um participante activo dessa viagem de dor. Todos nós sentimos dor quando alguém que amamos morre, mas para nos recuperarmos necessitamos de fazer o luto.
Existem seis “sinais produtivos” que provavelmente irá passar durante o seu processo de luto – “a recuperação necessita de dor” como costumo dizer. Por algum tempo o seu percurso de luto será uma intensa experiência pessoal, única, todos os que sofrem tem de passar por esse percurso de necessidades básicas e humanas para alcançar a recuperação.
Necessidade 1. O reconhecimento da realidade da morte.
Esta primeira necessidade de dor envolve a confrontação suave com a realidade de que alguém de quem gostava não voltará a encontrar-se consigo fisicamente.
Se a morte foi súbita ou antecipada, o reconhecimento total dessa morte pode levar semanas ou meses. Para sobreviver, pode por vezes manter afastada essa realidade de morte. Pode descobrir a confrontação com a morte através das recordações, boas e más. Estas recordações são uma parte vital no processo de luto. É como se cada vez que expressa o que sente, a morte se torne mais real.
Recordar – a primeira necessidade do luto, assim como as necessidades que se seguem, pode reter a sua atenção por meses. Seja paciente e compassivo consigo mesmo enquanto trabalha cada uma delas.
Necessidade 2. Aceite a dor da perda.
Esta necessidade exige que aceitemos o dor da perda – que, naturalmente, é algo que não queremos fazer. É mais fácil tentar evitar, reprimir ou negar a nossa dor que nos confrontarmos com ela, mas é no confronto com a dor que aprendemos a superar este momento difícil.
Provavelmente, descobrirá que necessita “equilibrar-se” para aceitar a dor. Por outras palavras, não pode (nem deve tentar) sobrecarregar-se com todo o sofrimento. Às vezes é necessário tentar distrair-se para não pensar nessa dos, outras vezes precisa encontrar um lugar seguro para equilibrar essa dor.
Infelizmente, a nossa cultura tende a encorajar a negação da dor. Se expressar seus sentimentos de sofrimentos, os seus amigos mais mal informados podem aconselha-lo a “continuar” ou “a manter a cabeça levantada”. Se permanecer “forte” e “controlado”, será elogiado por estar a “agir bem” com o seu sofrimento. Actualmente, agir bem com os seus sentimentos significa formação para a familiarização do seu sofrimento.
Necessidade 3. Lembrando a pessoa que faleceu.
Continua a ter algum tipo de relação com alguém que faleceu? Claro. Tem uma relação através das lembranças. Memórias preciosas, sonhos que reflectem o significado da relação e objectos que o ligam à pessoa que faleceu (como fotografias, recordações, etc.) são exemplos de coisas que testemunham de alguma forma uma relação que continua. A necessidade de fazer o luto envolve a procura e encorajamento de continuar essa relação.
Mas algumas pessoas vão tentar mantê-lo afastado das suas memórias. Tentam ajudar, encorajando-o a tirar da sua vista todas as fotografias da pessoa que faleceu. Dizem-lhe para se manter ocupado, ou até para mudar de casa. Mas lembrar o passado faz com que crie um possível futuro. O seu futuro só estará aberto a experiências novas se recordar o passado.
Necessidade 4. Desenvolva uma nova auto-identidade
Parte da sua auto-identidade deriva das relações que estabelece com outras pessoas. Quando alguém com quem mantém uma relação morre, a sua auto-identidade, ou a forma como se vê a sua próprio, naturalmente sofre alteração.
Poderá passar de “esposa” ou “marido” para “viúva” ou “viúvo”, de “pai” para “pai despojado”. A forma de se definir a si próprio e a denominação que a sociedade lhe dá mudam.
Muitas vezes, uma morte exige que assuma novos papeis sociais que eram preenchidos até então pela pessoa que faleceu. Afinal, alguém tem que continuar a fazer as tarefas diárias, como despejar o lixo, comprar alimentos, etc.. assim, será confrontado com a sua mudança de identidade sempre que tenha de desempenhar uma tarefa que normalmente era função de pessoa que faleceu. Isto pode ser um trabalho duro e poderá fazê-lo sentir-se muito triste.
Eventualmente, pode sentir-se como uma criança – lutando com a sua mudança de identidade. Pode sentir uma temporária dependência dos outros assim como sentimentos de desamparo, frustração, inadequação e medo.
Muitas pessoas ao trabalharem esta necessidade descobrem mudanças positivas nessa mudança de identidade. Pode desenvolver a confiança em si mesmo, tornar-se uma pessoa mais cuidadosa e sensível. Pode desenvolver uma nova vontade de viver embora continue a sentir a perca.
Necessidade 5. A procura de um significado.
Quando alguém que ama morre, naturalmente questiona-se sobre o significado e propósito da vida. Provavelmente irá questionar a sua filosofia de vida e explorar os valores espirituais e religiosos enquanto trabalha esta necessidade. Pode descobrir um significado próprio para as perguntas “Como?” e “Porquê?”.
“Como pode Deus deixar q isto acontecesse?”, “Porque aconteceu isto agora, desta forma?”. A morte lembra-lhe a sua falta de controlo e a sua impotência.
A pessoa que faleceu era parte de si, o que quer dizer que o seu desgosto não é só exterior mas também interior. Muitas vezes, a tristeza e a solidão serão suas companheiras. Assim, pode sentir quando essa pessoa faleceu que parte de si morreu com ela. E, agora, encarando esse facto pode sentir-se frequentemente vazio.
Esta morte pode encaminha-lo no confronto com a sua própria espiritualidade. Pode sentir que falhou duplamente e com conflitos espirituais e questões que não saem da sua cabeça e coração. Isto é um decurso normal do processo de luto, de recuperação da sua vida.
Necessidade 6. Recebendo apoio dos outros
A qualidade e quantidade de compreensão e apoio que receberá durante o seu processo de luto influenciará a sua capacidade de recuperar. Não pode – nem deve tentar – fazer isso sozinho. Utilizando as experiências e encorajamento de amigos, dos que já sofreram algo idêntico ou de conselheiros profissionais não é uma fraqueza mas uma necessidade humana saudável. E porque o luto é um processo deve ser efectuado no tempo, este apoio deve estar disponível durante meses, e até anos após a morte de alguém que fazia parte da sua vida.
Infelizmente, devido ao peso que a nossa sociedade coloca na habilidade para “continuar”, “manter a cabeça erguida” e “mantermo-nos ocupados”, muitos dos que estão de luto são abandonados logo após a ocorrência da morte.”Terminou e acabou com” e “É tempo de continuar com a sua vida” são o tipo de mensagens dirigidas às pessoas em luto. Obviamente este tipo de mensagem encoraja-o a negar ou reprimir o seu sofrimento em vez de o expressar.
Para ser verdadeiramente útil, as pessoas do seu grupo de apoio devem entender o impacto que essa morte teve na sua vida. Têm de entender que para que a recuperação seja saudável, devem permitir – e até encorajarem – que lamente após muito tempo a morte dessa pessoa que lhe era querida. Devem encorajá-lo a encarar o luto não como um inimigo a ser derrotado mas como uma experiência necessária como resultado de ter amado.
Reconciliando o Seu Sofrimento
Pode ouvir dizer – e mesmo acreditar – que o seu percurso de luto acaba quando resolve, ou recupera, o seu sofrimento. Mas o seu percurso nunca acaba. As pessoas não acabam com o sofrimento de um luto.
Reconciliação é o termo que acho mais adequado para definir a integração da nova realidade de vida, em continuar sem a presença física da pessoa que faleceu, por parte das pessoas em luto. Com reconciliação recupera-se energia e confiança, a habilidade reconhecer a realidade da morte e a capacidade para voltar a resolver as tarefas diárias da vida.
Na reconciliação, a questão, é – a dor existente no sofrimento transforma-se num sentido com significado. O sentimento de perda não desaparecerá completamente, contudo tornam-se mais suaves, e os intensos momentos de aflição tornam-se menos frequentes. A esperança para continuar a vida emerge assim que estiver disponível para ter compromissos no futuro, sabendo que a pessoa que faleceu nunca será esquecida, mas ainda assim aceitando que a vida continua e que deve continuar.