Reconheça a Sua Perda
Poucos acontecimentos são tão dolorosos como a morte do seu cônjuge. Pode não ter a certeza se conseguirá sobreviver a esta opressiva perda. Às vezes, pode não ter a certeza se tem energia e se deseja mesmo recuperar.
Está no início de um percurso que é amedrontado e frequentemente solitário. Este artigo dá algumas sugestões práticas para ajudá-lo na recuperação do seu processo de luto.
Permita-se Sofrer
O seu marido ou esposa faleceu. Era seu companheiro/a, a pessoa que partilhou a sua vida consigo. Neste momento já não sabe quem é, está confuso, o que é natural pois perdeu uma parte de si. Quando alguém que amamos, com quem vivemos, de quem dependemos, morre é normal que fiquemos desorientados.
Agora tem de enfrentar o mais difícil, mas é importante que sofra. Sofrer é a expressão dos seus pensamentos e sentimentos relativamente à morte do seu cônjuge. É uma fase natural da recuperação.
Reconheça Que a Sua Dor é Única
O seu sofrimento é único porque ninguém mais teve a mesma relação que você teve com o seu cônjuge. Esta experiência de luto será influenciada, também, pelas circunstâncias da morte, outras perdas que já experimentou, o seu sistema de apoio emocional, as suas crenças culturais e as suas crenças religiosas.
Assim, sofrerá de modo individual e único. Não tente comparar a sua experiência à de outras pessoas, nem tente supor o tempo que a sua dor irá durar. Considere”viver um dia de cada vez” o que lhe permite sofrer ao seu próprio ritmo.
Discuta os Seus Pensamentos e os Seus Sentimentos
Expresse a sua dor abertamente. Quando partilha o seu sofrimento com os outros para que a recuperação surja. Fale sobre as circunstancias da morte, dos seus sentimentos de perda e solidão, e das coisas especiais que perde ao perder o seu cônjuge. Descreva o tipo de pessoa que o seu marido ou esposa era, sobre as actividades que desenvolveu com ele ou ela, e das recordações que o fazem rir ou chorar.
Faça o que fizer, não ignore a sua dor. Está a sofrer com esta perda, esse sofrimento tem de ser tratado. Fale sobre o que lhe vai no coração, não fale só do que lhe vai na cabeça. Fazer isso não significa que perdeu o controlo ou que está a ficar “louco”. É uma fase normal do processo de luto.
Prepare-se Para Sentir Uma Grande Variedade de Emoções
A experiência de morte de um cônjuge afecta a nossa cabeça, coração e espírito, assim pode sofrer uma diversidade de emoções e deve encarar este facto como uma fase natural do processo de luto. É um processo porque é necessária muita energia, esforço e algum tempo para a sua recuperação. Confusão, desorientação, medo, culpa, alivio e raiva são algumas das emoções que pode sentir. Às vezes, estas emoções seguem-se umas atrás das outras em curtos espaços de tempo ou podem mesmo surgir em simultâneo.
Por muito estranhas que estas emoções possam parecer, elas são normais e saudáveis. Permita aprender com estes sentimentos. E não fique surpreendido, se de repente, sem qualquer razão aparente se sentir invadido por uma dessas ondas de emoções. Estes surtos de emoções podem amedrontá-lo e fazê-lo sentir subjugado. No entanto, são uma resposta natural à morte de alguém amado. Procure alguém que compreenda os seus sentimentos e que lhe permita falar deles abertamente.
Procure Um Sistema de Apoio
Procurar e aceitar o apoio de outros é difícil, em particular quando está a sofrer tanto. Mas a auto-acção mais compassiva que pode ter para consigo mesmo, neste momento difícil, é encontrar um sistema de apoio constituído por familiares e amigos atenciosos que lhe darão toda a compreensão que necessita. Procure essas pessoas que “caminharão consigo”, não “à sua frente” nem “atrás de si”, durante o seu processo de luto. Descubra se existe algum grupo de apoio na sua zona de residência e se gostaria de o frequentar. Não existe substituto para a aprendizagem com outras pessoas que passaram pela experiência da de um cônjuge.
Evite pessoas críticas e que não dão valor ao seu sofrimento. Podem dizer “O tempo cura todas as feridas”, “Vai superar isso” ou “Tem de manter a cabeça levantada”. Apesar de estes comentários poderem ser bem intencionados, não tem o dever de aceitá-los. Encontre pessoas que o encorajam a ser você mesmo e a reconhecer os seus sentimentos – ao mesmo tempo felizes e tristes. Tem o direito de expressar o seu sofrimento, ninguém tem o direito de desvaloriza-los.
Seja Tolerante Com os Seus Limites Físicos e Psicológicos
Provavelmente, os seus sentimentos de perda e tristeza irão deixá-lo fatigado. A sua capacidade para pensar claramente e para tomar decisões pode estar prejudicada, assim como o seu nível de energia também pode estar baixo. Respeito o que o seu corpo e mente lhe dizem. Descanse. Coma refeições equilibradas.
Pergunte a si mesmo: Estarei a ter os mesmos cuidados comigo que teria com um bom amigo? Estarei a ser muito duro comigo próprio? Pode pensar que deveria ser mais capaz, ter mais controlo e “superar melhor” a sua dor. Estas são expectativas erradas e podem complicar a sua recuperação. Pense deste modo: Tratar de si não significa ter pena de si próprio; significa que utiliza a sua capacidade de sobrevivência.
Leve o Tempo Que Necessita Com os Pertences do Seu Cônjuge
Você, e apenas você, deve decidir o que fazer com as roupas e objectos pessoais do seu cônjuge. Não se force a tomar essa decisão até achar que já está pronto para a tomar. Leve o tempo que achar necessário. Para já, pode não ter energia ou disponibilidade emocional para fazer seja o que for com esse pertences.
Lembre-se que algumas pessoas desejam que se restabeleça rapidamente e por isso querem que tome logo a decisão sobre o que fazer com esse pertences. Não os deixe tomar essa decisão por si. Não o fará sofrer mais deixando os pertences do seu cônjuge no lugar onde sempre estiveram. A vantagem é, quando tiver energia para o fazer fará. Mais uma vez, só você pode determinar o seu próprio tempo.
Seja Compassivo Consigo Durante os Dias de Descanso, Aniversários e Ocasiões Especiais
Provavelmente, sentirá que o seu cônjuge lhe faz mais falta em alguns dias do que em outros. Dias com especial significado para si enquanto casal, como o seu dia de aniversário, o aniversário do seu cônjuge, o vosso aniversário de casamento ou nas férias, podem ser dias mais difíceis para si.
Estes dias enfatizam a ausência do seu marido ou da sua esposa. O recordar das emoções dolorosas pode deixá-lo a senti-las como um eco. Aprenda com estas emoções e nunca tente ignorá-las. Se pertencer a um grupo de apoio, talvez tenha um amigo especial que mantenha um contacto próximo consigo durante esses dias naturalmente difíceis.
Guarde as Suas Recordações
As recordações são o melhor legado depois da morte do seu cônjuge. Guarde bem as recordações que o confortam, mas explore também as que o aborrecem. Mesmo as recordações difíceis podem ajudá-lo na recuperação. Partilhe essas recordações com pessoas que o ouçam e apoiam. Reconheça que algumas dessas recordações o fazem rir e outras o fazem chorar. Em qualquer dos casos, elas são uma parte duradoura no tempo da relação que teve com uma pessoa muito especial na sua vida.
Pode também encontrar algum conforto encontrando uma maneira de comemorar a vida que teve com o seu cônjuge. Se ele ou ela gostava da natureza, pode plantar uma árvore pois ele ou ela teria gostado. Se o seu cônjuge gostava de uma música em especial, coloque-a a tocar enquanto o recorda. Ou, pode fazer um livro com fotografias e memórias a retratar a sua vida ao lado do seu cônjuge. Lembre-se – recuperar do sofrimento não significa esquecer o seu cônjuge nem esquecer a vida que partilhou ao lado dele/a.
Aceite a Sua Espiritualidade
Se a fé faz parte da sua vida, expresse-a da maneira que acha mais apropriada. Esteja rodeado de pessoas que compreendem e apoiam as suas convicções religiosas. Se está chateado com Deus porque o seu cônjuge faleceu, aceite este sentimento como uma fase natural do seu processo de luto. Encontre alguém para falar dos seus sentimentos e sentimentos que não critique mas que o ouça.
Pode ouvir, “Quem tem fé, não necessita de sofrer”. Ignore. O facto de ter a sua fé individual não quer dizer que não tem pensamentos e sentimentos. Negar a sua dor é convidar a que os problemas cresçam ainda mais. Expresse a sua fé mas expresse também o seu sofrimento.
Oriente a Sua Dor e Recuperação
Para restabelecer a sua capacidade de amar, tem que sofrer completamente a morte do seu cônjuge. Não existe um tempo pré-estabelecido para terminar o seu processo de luto. De facto, não “recupera” do sofrimento, vive com ela enquanto tiver de viver.
Lembre-se, o luto é um processo, não um acontecimento. Seja compassivo consigo próprio, renuncie aos seus velhos papeis e estabeleça novos papéis. Não, a sua vida não é a mesma, mas merece viver apesar de se lembrar para sempre da pessoa que amou.
A experiência do luto é poderosa. A sua capacidade de recuperar também é. Ao fazer todo o percurso do luto, renovará a sua vontade de viver e orientará o que pretende da viva.